Arquivo | maio, 2012

O cozinheiro que não gostava de cozinhar

30 maio

Sabrina Demozzi

Uma das coisas que parecem taxativas quando o assunto é cozinha profissional, é que a pessoa que trabalha com isso TEM que gostar. Se a pessoa não gosta, como em qualquer trabalho, corre-se o risco de ela comprometer sua qualidade de vida, a qualidade do seu trabalho e consequentemente o resultado disso para o público. Eu tive a oportunidade de conhecer um cozinheiro que trabalhava em um restaurante de grande porte que afirmou com todas as letras que não trabalhava em outra coisa, porque não conseguia, e que não gostava muito de cozinhar.

Nem preciso dizer que esse desânimo refletia diretamente no que ele servia, na condução da cozinha e na vontade de ele aprender a melhorar o seu trabalho. Quem trabalha com cozinha sabe que o negócio não é fácil, já cansamos de falar que esses chefs bonitos e limpinhos só existem na televisão, e que pro cara chegar até ali ele ralou e muito. Mas o que será que leva uma pessoa que não gosta de cozinhar trabalhar com isso? Será que ela até gostava e parou de curtir quando começou a ver o negócio de verdade, ou achou que diante dos inúmeros trabalhos existentes no universo cozinhar seria o menos penoso?

Eu não entendo, mas as motivações dessas pessoas são diferentes das minhas. O que eu sei é que o estado de ânimo influencia diretamente na forma como a gente cozinha. Minha mãe, quando eu era bem pequena, costumava dizer que quando a comida estava salgada demais a “pessoa estava apaixonada”. Fui entender anos depois. Há uma diferença enorme quando a gente cozinha com vontade e quando a gente cozinha por obrigação. Acho sinceramente que hoje as pessoas buscam cozinhar por vontade para satisfazer a si mesmas, os outros e os seguidores no Facebook. Mostrar a habilidade em cozinhar tornou-se comum e podemos ver isso por meio das inúmeras publicações, blogs e redes sociais que tratam do assunto.

Mas e o cozinheiro que não gostava de seu trabalho? Eu quando não gosto de algo, ignoro, faço de conta que nem vi. Ele fazia isso. Lembro de ter ensinado várias vezes um corte pra que ele aproveitasse melhor os legumes. Quando retornei para uma visita no estabelecimento percebi que ele cortava de qualquer jeito, jogava quilos de comida fora e não aceitava críticas. Sem contar que a falta de interesse fazia com que ele mandasse os garçons avisar aos clientes que determinado prato não ia sair porque “tinha acabado”. Fui olhar e a despensa estava abarrotada daquele produto. Precisa dizer mais?

Não peço que ninguém saia por aí declarando que só cozinha por amor. Tudo que é extremo e até isso não faz bem. Mas o mínimo de vontade de sair da cama para servir aos outros é essencial, do contrário, é melhor nem se chamar de cozinheiro.

*Próximo post vai tratar dos chefs mirins e chefs amadores.

Indicação: porque confiamos na opinião dos outros

19 maio

Sabrina Demozzi

Fiz uma enquete bem rapidinha na página oficial do blog no Facebook perguntando qual o principal critério que faria uma pessoa optar por um restaurante e não outro.  A maioria das pessoas respondeu que a Indicação de lugares por pessoas conhecidas era o critério mais importante. Além de questões ligadas ao convívio e também porque pessoas com as quais nos relacionamos costumam conhecer nosso gosto, a indicação é principalmente importante dependendo de quem nos dá.

Se você precisa comer em um lugar barato e acessível, vai perguntar pra quem costuma ir a esse tipo de estabelecimento, não é? Se precisa levar a namorada em um aniversário de namoro, por exemplo, vai perguntar a alguém que já esteve na mesma situação. Confiamos na indicação das pessoas porque acreditamos que a experiência dessas pessoas com essas situações podem nos ajudar a escapar de roubadas. Se a pessoa ainda tiver uma formação ligada à área ou se mostrar ser um conhecedor, a indicação tem um peso ainda maior, pois acreditamos que não vamos nos decepcionar com a opinião de um “especialista”.

Com tantos especialistas por aí, fica difícil filtrar o que é realmente é importante e o que não é. E, além disso, comida é momento. Pode ser que eu indique pra você um restaurante que no momento em que eu fui parecia ser a melhor opção, quando você for, não acha tão bom devido a inúmeros fatores como demora, preço e atendimento. Complicado né? Por isso, que um restaurante bom também é medido pela regularidade dos serviços e o boca a boca, ainda mais hoje, é um dos melhores divulgadores que existem.

Eu desconfio de sites, blogs e revistas que se desmancham apenas em elogios aos restaurantes, porque como sabemos, muitos deles recebem pra comer e comentar positivamente sobre os estabelecimentos. E esse é um dos motivos também pelo qual eu evito falar de restaurantes no blog, porque sempre corre-se o risco de descambar pro lado pessoal. E se eu fosse criar uma seção de lugares que eu não indico (já existe algum site pra isso?) eu tomaria tantos processos  que eu teria que mudar de cidade. Mas isso é assunto para um post no futuro.

Uma indicação minha: Adoro a seção “Romeu e Julieta” da Revista Menu- Em que um casal anônimo vai aos restaurantes em São Paulo e eles fazem críticas relacionadas a preço, serviço e preparações. Sonho com o dia em que será possível fazer algo semelhante em Curitiba.

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Larica Total: o avesso da culinária na televisão

5 maio

Sabrina Demozzi

Muita gente me pergunta o que eu acho do programa de Paulo Tiefenthaler, o Larica Total, que passa no Canal Brasil na terça-feira às 21h30. Eu acho o máximo. E se você ainda não conhece sugiro que assista um episódio (estão disponíveis no site do Canal Brasil ) e tire as suas próprias conclusões.

Paulo Tiefenthaler ator e diretor,  é Paulo Oliveira, o cara que faz cozinha de guerrilha. Em uma minúscula cozinha, Paulo conversa com o telespectador e cozinha com o que encontrar na geladeira e nos armários. O programa não segue um tema específico, mas Paulo que ganhou o prêmio APCA 2009 por Melhor Programa de Humor, consegue subverter a imagem da culinária na televisão. Ele é o avesso dos programas existentes: sempre com a barba por fazer não se prende muito a questões ligadas a gastronomia e que comumente vemos na televisão. Paulo que em uma entrevista recente afirmou que não imaginaria o sucesso do programa e que a gastronomia não é a sua praia, tornou-se uma espécie de “cozinheiro de república estudantil” por trazer ingredientes e preparos de baixo custo condizentes com a estrutura desse público e de tanta gente que não tem uma cozinha equipada em casa.

Se por um lado Jamie Oliver, o inglês que se tornou símbolo de refeições de chef “desnudadas” para um público com maior poder aquisitivo, Paulo que criou esse personagem sem a pretensão de tornar-se um chef de televisão, tornou-se uma porta voz do aproveitamento de alimentos e da despretensão, justamente o avesso de alguns programas. Quase todo mundo consegue realizar a “culinária de guerrilha” do Larica Total. Além disso, o programa surge como uma espécie de alívio (pelo menos acredito nisso) para essa obsessão com a comida perfeita, universo de harmonizações e confrarias. O produtor executivo do programa, Terêncio Porto, fala que Larica Total “faz da precariedade um show”. Acho que tem dado muito certo até agora.

Nesse link, você vê o making off do programa e os diretores, criadores e o ator Paulo Tiefenthaler falando do programa. Bem bacana:

 E esse é o link para a primeira parte do Larica Total que trouxe a participação do chef Claude Troisgros. Eu choro de rir até hoje:

 

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